E o bate-papo sobre livros e criatividade foi com Bruno Freitas. Jornalista, formado pela Universidade do Vale do Sapucaí (2011) e pós-graduando em Jornalismo Digital pela Universidade Estácio de Sá. Atualmente, trabalha como editor de texto em um editora livros didáticos e, mensalmente, organiza o projeto Piquenique Literário em São José dos Campos, SP.
Reuni - Como a leitura se tornou parte de sua vida?
Desde pequeno eu sempre gostei muito de livros e do poder que eles têm de nos levar para diversos lugares e situações. Mas, o meu maior incentivo mesmo veio de dentro de casa, por meio da minha mãe, que ainda na minha infância costumava me contar as famosas histórias infantis, sendo ela, inclusive, a responsável por comprar meus primeiros livros – que eu ainda tenho guardados comigo. Já nos primeiros anos escolares, eu e meus colegas de classe éramos incentivamos a incluir o hábito da leitura no nosso dia a dia e, além disso, costumávamos ganhar livros de presente das nossas professoras, o que para mim sempre foi motivo de muita alegria. Somado a tudo isso, sempre gostei de frequentar as bibliotecas das escolas em que eu estudei e também das cidades que eu morei. Aliás, foi na biblioteca municipal de Conceição dos Ouros, que a magia da literatura me pegou de vez. Lá, além de pegar livros emprestados, eu adorava bater papo com a bibliotecária Cecília, que me ensinou a cuidar dos livros como se fossem meus melhores amigos e a carregá-los comigo para onde eu fosse.
Reuni - Qual a relação entre a leitura e criatividade?
As pessoas sempre costumam me perguntar quais são os benefícios da leitura, e posso afirmar que a criatividade é um deles. Ao ler, conhecemos estilos de escritas distintos, visto que cada autor – de diferentes regiões do Brasil e também do mundo – têm suas próprias maneiras de contar histórias. Além disso, em cada livro encontramos personagens e cenários diferentes. Por isso, um exercício muito interessante para exercer a criatividade por meio da leitura é se aventurar por gêneros e autores diferentes. Com isso, podemos conhecer novas linguagens, oralidades, personagens e realidades, o que contribuiu, sem dúvidas, para que enxerguemos a realidade a nossa volta e as outras pessoas de uma nova maneira. Por fim, o exercício constante da leitura permite que tenhamos um vocabulário mais rico e um repertório cultural muito mais amplo.
Reuni - Você trabalha em uma editora, na sua opinião, qual é o principal motivo da desmotivação literária na vida das pessoas?
Eu trabalho em uma editora de livros didáticos e, assim, consigo ter uma visão voltada mais para o lado pedagógico da leitura. Atualmente, vivemos em uma sociedade em que as coisas perdem valor rápido demais. No campo da tecnologia, por exemplo, a cada dia surge um novo produto ou aqueles que já existem no mercado são constantemente reformulados. Para ler um livro é preciso se concentrar e dedicar um tempo a isso, o que para muitas pessoas pode soar como perda de tempo, visto que o hábito da leitura exige, muitas vezes, se desligar das tecnologias, principalmente dos smartphones. Aliás, é muito mais comum encontrar pessoas mexendo no celular do que com um livro das mãos. Além disso, o apoio ao hábito da leitura deve vir, antes de tudo de dentro de casa; muitas mães e pais preferem deixar seus filhos conetados ao tablet ou à TV ligados à internet, claro, do que sentar e ler uma história em parceira com seus filhos, enquanto eles mesmos estão conectados às suas próprias realidades virtuais. Em meio a tudo isso, muitas pessoas acabam esquecendo da importância do contato físico com as demais, do olho no olho, do exercício da empatia, porque estão sempre conferindo algo na internet. A tecnologia, claro, tem seus benefícios, por isso também deve fazer parte da nossa rotina, mas precisamos nos policiar para que ela não seja mais importante do que outras coisas que deveriam fazer parte da nossa rotina.
Reuni - Conte-nos um pouco sobre a história do seu projeto “Piquenique Literário”
A leitura, geralmente, é um processo isolado e individual, mas ao terminar um livro, nós leitores sentimos a necessidade de compartilhas as nossas experiências de leitura e também de ouvir o que outras pessoas que leram o mesmo livro para contar – o mesmo acontece, por exemplo, quando alguém assiste a um filme e quer conversar sobre ele. Pensando nisso, eu e uma amiga do trabalho, em uma conversa de almoço informal, tivemos a ideia de criar um grupo de leitura. No começo, tínhamos muitas dúvidas se o projeto daria certo, se as pessoas estariam dispostas a se reunir mensalmente para conversar sobre livros e, principalmente, se nos dias de hoje encontraríamos leitores ávidos para compartilhar suas experiências. Mesmo em meio a essas incertezas, decidimos arriscar e demos início ao Piquenique Literário. Então, criamos um grupo no Facebook com o nome do projeto e marcamos o primeiro encontro para o primeiro sábado do mês de fevereiro de 2017, no Parque Vicentina Aranha, na região central de São José dos Campos, quando lemos o livro “O sol é para todos”, da Harper Lee.
Lembro que nesse dia, chovia muito, o que não impediu que cerca de 20 pessoas comparecessem ao nosso encontro. De lá para cá, já realizamos 25 encontros e, com o passar do tempo fomos estruturando o nosso projeto. Hoje, sempre buscamos incentivar a participação de todos, ouvindo os temas de livros que eles gostariam de ler e pedindo sugestões de leituras dos próprios membros do grupo. O grupo é aberto e coletivo, por isso sempre estamos preocupamos em ouvir os participantes do Piquenique, em chamá-los pelo nome e em estar sempre próximos. Nos dias de hoje, com muitas coisas mudaram, as pessoas sentem a necessidade de participarem de um grupo, de serem acolhidas e ouvidas, é isso que buscamos nos encontros.
Cada encontro é uma experiência diferente. Um deles foi realizado na Semana Literária Monteiro Lobato, em Taubaté, quando lemos o livro “A droga da obediência” e tivemos a oportunidade ouvir e tirar fotos com o Pedro Bandeira. Em encontros, convidamos os autores dos livros para participar do encontro e ouvir o que os membros do Piquenique Literário tinham para contar, como o Gustavo Ávila (“O sorriso da hiena”), Cínthia Zagatto (“Que viagem”) e, mais recentemente, a Aline Bei (“O peso do pássaro morto”).
Os livros escolhidos para cada encontro, apesar de serem de gêneros diferentes, sempre trazem uma temática relevante, pois a ideia do Piquenique Literário, além de fomentar a leitura, é possibilitar que os leitores possam exercer a empatia e o respeito ao próximo, olhando para o mundo de forma diferente e não limita apenas ao que consideramos ser verdade. Hoje, em cada encontro, recebemos em média cerca de 60 pessoas – no encontro de março de ano, mais de 100 pessoas participaram do Piquenique – de todas as idades, gêneros, classes sociais e até de diferentes cidades para falar sobre livros. E muito gratificante saber que a cada encontro pessoas novas participam do Piquenique Literário ou, mesmo se não podem ir, leem os livros sugeridos por nós.
Além disso, frequentemente recebemos mensagens nas redes sociais do projeto de pessoas agradecendo pela iniciativa e de outras que levaram a ideia do projeto para as cidades que elas moram. Quando pensamos em criar um grupo de leitura, não imaginávamos a importância que ele teria e nem que ajudaríamos tantas pessoas por meio da leitura. É algo muito gratificante e, realmente, fico muito feliz com tudo isso!
Créditos das fotos: Bruno Miranda/Piquenique Literário
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