No mundo de hoje é muito comum ver os adolescentes se descobrindo, mas eu penso que não se descobre o que somos, mas sim, damos sequência ao que sempre fomos.
Há muito tempo, a homossexualidade é tratada como um assunto tabu entre as pessoas, pois muitos preferem não tocar nessa questão com os filhos e amigos. Realmente é complicado você compreender o que se passa em seu interior, imagina explicar isso pra outra pessoa. Nesse meio campo, muitos jovens acabam indo para o pior caminho possível, como drogas, álcool, negação e, até mesmo, o suicídio.
É difícil se sentir diferente, ou se sentir normal por amar, mas o preconceito imposto faz com que o sentimento fique todo bagunçado dentro de nós. As perguntas mais frequentes são: será que meus pais vão me aceitar? Será que vou apanhar na rua por amar uma pessoa do mesmo sexo? Será que é isso mesmo que gosto? Será que é pecado? O que vão pensar de mim agora? Essas frases assombram muito.
Na caminhada da vida, aprendi que sempre haverá preconceito, que é difícil se auto aceitar e tenso ver os olhares de discriminação, mas é maravilhoso, também, se sentir livre, saber que, pelo menos um membro da sua família, te aceita, que seu caráter vale mais do que o seu relacionamento afetivo. Nem sempre tudo é um mar de rosas, mas quando se encontra o caminho, se acha também a força para ser você mesmo.
Descobri há um tempo atrás, um livro que conta a história de dois melhores amigos, chamado “A Matemática do Amor”, dos autores Augusto Alvarenga e Vinicius Grossos. Comprei pelo título, pois adoro romance, porém, esse livro mudou a minha vida e sei que poderia salvar a vida de muitos jovens no período de descoberta sobre a sua sexualidade.
Com a viagem de um dos personagens, o outro resolve aproveitar cada segundo, e faz uma lista sobre o que os dois pretendem fazer e é entre uma atividade e outra que os dois começam a sentir mudanças, a aproximação aumenta e um deles percebe que o sentimento ultrapassa o limite da amizade.
É exatamente isso o que acontece na vida real, ás vezes, não sabemos decifrar o carinho por aquela pessoa, a vontade de estar perto, até mesmo a atração física. Tudo fica meio perdido dentro de nós, pois não é uma coisa “normal” aos olhos do mundo.
Com o tempo, os amigos passam por uma proibição de se encontrarem, mas nada os impede de se encontrar. Em uma noite de chuva, eles se encontram de madrugada e o sentimento aflora. No decorrer da história, muitas dúvidas surgem. Um deles, que pratica esportes tradicionais, é agredido por seu time, por ser considerado “afeminado” e, por defender seu outro amigo de piadas homofóbicas. Ele é hospitalizado em consequência da agressão que sofreu.
O amigo relata que brigou com os agressores por não suportar vê-lo desacordado e revela o seu amor por ele. Explica que a única coisa que importa é o amor dos dois, que tentou lutar contra esse sentimento, mas percebeu que seria impossível. Quando ele sai do quarto do hospital e encontra a sua família e a do melhor amigo, tenta explicar e é surpreendido por um abraço coletivo que demonstra o apoio dos familiares quanto ao relacionamento dos dois.
Infelizmente, na vida real nem sempre é assim, muitos pais colocam os seus filhos para fora de casa, até mesmo espancam ou matam por não aceitarem, por ausência de diálogo, por não procurarem saber sobre o assunto, ou por ter medo do filho sofrer preconceito. Porém, tem pais que, como os dos personagens, percebem o amor como algo muito maior do que tudo, outros pais, respeitam mas não aceitam. Acho que tudo é uma questão de postura, de que, com o tempo, tudo se esclarece que ter o carinho dos pais é fundamental.
Depois que tudo aconteceu, os dois personagens começaram a viver o relacionamento e, mesmo quando um decidiu mudar de país, o amor dos dois foi mais forte que o preconceito, que os medos e desafios.
Por isso, a simples leitura de um livro ajudaria meninos e meninas a entenderem esses sentimentos, pois no começo é bem estranho, pelo mundo que vivemos, pelas discriminações e os medos do preconceito. Um conselho é que todo mundo já viveu uma paixão assim ou parecida, ás vezes se apaixonar pelo melhor amigo ou amiga é uma forma de nos despertar, de entender nossas dúvidas e compreender que o amor não tem hora e nem lugar para acontecer, ele não escolhe raça, etnia, sexo, cor, ele só acontece.
Aos papais de plantão, também recomendo a leitura, e deixo aqui meu apelo, amem os seus filhos como são. É difícil, pois sei que, como pais, vocês têm diversos sonhos para nós, mas saibam que vamos ter uma família, filhos, futuro. O que não pode se esquecer é que, independente de quem estiver ao lado dos seus filhos, o amor de um pai e de uma mãe e muito mais forte do que todos os preconceitos. Sejam fortes, procurem entender e conversar sobre isso. Deixa pra lá o orgulho, os costumes antigos, o machismo, hoje vivemos novos tempos e a homossexualidade sempre existiu, o que mudou foi a coragem de quem não aguenta mais mentir para si mesmo e precisa se libertar.
Eu tenho o carinho e apoio da minha mãe, talvez muitos da minha família não saibam ainda e podem descobrir ao lerem esse texto. Devo respeito a quem esteve comigo em todas as minhas fases, estou junto daqueles que me amam e me aceitam e também daqueles que percebem em mim, o meu caráter, a minha competência como profissional e não com quem eu me relaciono!
Sejam sempre livres, o amor é o sentimento mais bonito do ser humano, não se prive de sentir por medo, a vida passa como uma brisa de fim de tarde. Viva! Seja feliz! Pois como diz o cantor Lulu Santos “que seja justa, toda forma de amor”
Saiba mais sobre o livro:
Lucas e Bernardo são dois garotos, melhores amigos um do outro de toda a vida. De repente, recebem a notícia de que Bernardo irá se mudar com a família para outro país. Nesse momento, cada um, a seu modo, percebe como valiosa era aquela amizade, algo que não queriam perder. Bernardo reage mal e se revolta. Lucas tenta transformar cada dia que resta com o amigo na melhor experiência de suas vidas. Ele escreve uma lista de coisas para fazer e pretende cumprir uma por uma, em todos os detalhes. Mas, a cada dia, o fantasma da separação os assombra com um cronômetro lembrando que o tempo se esgota e, ainda assim, os dois passam por grandes momentos juntos. Então os meninos percebem que há algo mais entre eles... um sentimento profundo, que não conseguem explicar e tornam todas aquelas experiências ainda mais intensas. Mas o que fazer com tudo isso quando se tem apenas 16 anos?
Beatriz Gomes é aluna do 7º período do curso de Publicidade e Propaganda da Univás
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