Reuni - Em sua opinião, como se dá a relação moda, publicidade e identidade?

 

Fred Couto - A moda tem uma linguagem ampla, e acompanha historicamente a sociedade, incorpora movimentos políticos e sociais ao longo da história. A publicidade é uma ferramenta que pode dar a cada marca sua identidade, perfilando possíveis consumidores a marcas de consumo. 

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A identidade de uma marca gera divisões de classes invisíveis, mas altamente perceptíveis, que são sentidas por consumidores e pela própria sociedade.

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Essa relação entre os três pontos, moda, publicidade e identidade são indissociáveis, uma não existe sem a outra, as grandes indústrias dependem da ligação da publicidade com a identidade gerada por ela, para que seus produtos sejam desejo de consumo pelo grande público.

 

Reuni - Hoje em dia, o consumidor é mais crítico e exigente. Existe uma maneira eficiente para se conquistar um determinado público por meio da publicidade no mercado da moda? Qual?

 

Fred Couto - Sim. Com a conectividade do mundo moderno, todos tem acesso a informações, o que está em alta, ou o que não vai se usar mais na moda. Porém, o que não se é percebido é o grande poder da indústria de criar novas estratégias para que o consumo não caia. O novo do novo, o mais recente, o que você ainda não tem, são formas primárias de atrair o consumidor. Mas a publicidade tem um papel ainda maior nesse ciclo de consumo. A maneira mais eficiente do mercado da moda é criar a necessidade de consumo através da identidade dos consumidores, a roupa passa a representar quem ele é, através de cores modelos e de sua propaganda nos veículos de comunicação. Ele se significa através da propaganda daquela marca de roupas como ela impacta a camada da sociedade que esse consumidor pertence ou que deseja pertencer.

 

Reuni - Como a utilização de celebridades em propagandas de moda pode interferir no comportamento do consumidor?

 

Fred Couto - Sim pode interferir. Hoje é comum vermos celebridades estampando propaganda de marcas de moda. O que temos que perceber como é utilizada essa estratégia. Cada marca tem sua pesquisa de mercado e público alvo, através dessa informação são selecionadas personalidades que tenham em sua figura pública a empatia com o possível público que se identifique com ela e com a marca. Nesses casos uma escolha errada pode causar um impacto nas vendas de um produto, levando a um grande fracasso.

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As frequentes propagandas com celebridades, faz com que o consumidor não compre a marca por qualidade ou por melhor modelagem, e sim pelo que ela representa socialmente, a garota ou o garoto propaganda dizem mais sobre o consumidor do que a própria roupa.

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Essa é uma maneira forte de cativar certos consumidores, porém, existe um apagamento de quem é o consumidor, ele deixa de ser quem é para ter a sensação de ser alguém importante ( a celebridade da marca)  isso é perigoso, porque esse consumidor que se espelha nas celebridades de propagandas para se representar através do consumo, se torna altamente migratório, qualquer outro produto que tenha uma garota ou garoto propaganda que o represente em uma maior ascensão, ele migrará para essa nova marca.

 

 

Reuni - Uma peça publicitária de moda que, a seu ver, não conquistou o público por optar por uma celebridade que não tinha identificação com o seu público. Por que?

  

Fred Couto - Toda marca de moda quer ter seus consumidores satisfeitos, e que eles também sejam divulgadores da marca. A busca dessa identidade visual, ou uma celebridade que possa ser a cara da marca é uma busca difícil e delicada, afinal o que fica em jogo são milhares de reais em investimento na marca, que é um bem tangível, e o valor da marca como ícone comercial, o valor intangível, que é construído com sua ideologia e identidade visual.

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O que vou apontar não é exatamente uma campanha, mas uma forma de divulgação de grandes marcas, que são os editoriais de moda em revistas e sites especializados em moda.

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Fonte: http://www.papelpop.com/2014/04/valesca-popozuda-surpreende-em-novo-ensaio-fotografico/

 

 

A funkeira Valesca Popozuda fez um editorial de moda para a revista Joyce Pascowitch no qual ela vestia roupas de marcas internacionais, consideradas de alta classe, como Louis Voutton, Alexandre Herchcovitch, Gucci e Chanel. Este editorial teve muitas críticas, tanto pelo público cativo da cantora que se identifica com seu gênero musical e a forma de se vestir nos shows e em sua vida pessoal, quanto aos consumidores das marcas internacionais aqui no Brasil.

 

As críticas colocaram a cantora em uma situação de não pertencimento nem a uma classe nem a outra, não houve uma aceitação de nenhum dos públicos no qual o editorial atingiu. Para os divulgadores das marcas essa reação do público não foi boa, não houve por parte do público uma identificação para gerar o desejo de consumo, e que em maior escala poderia gerar uma rejeição dos produtos ali expostos no editorial.

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Este fato nos coloca em alerta para que mesmo em uma campanha na qual é destinada um determinado público, temos de analisar todo o briefing os anunciantes relacionados e qual canal de mídia será destinado para que esse tipo de reação não ocorra.

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Ao meu ver, o anúncio da matéria foi equivocada, não houve um direcionamento para o público da revista, não foi feito um trabalho cuidadoso para que não houvesse esse choque. Não foi usado artifícios publicitários de moda que envolvesse o editorial com a matéria de moda, a harmonia entre um editorial e uma matéria jornalística tem de ser muito bem direcionada para não haver ruídos.